domingo, novembro 15, 2015


REMÉDIO

Para inchaço, dimeticona.

Para dor, paracetamol,

Dipirona, aspirina.

Para dor mais forte, morfina.

Para não precisar, sorte.

Paralisia, vacina.

Para poesia, morte.

MESMO A SOLIDÃO ABSOLUTA É RELATIVA
 
Tudo o que uma solitária não quer

                                                       É que tênia uma luz no fim do túnel

quarta-feira, setembro 12, 2012


quarta-feira, outubro 27, 2010

LOGINÁSTICA

Na academia de letras,
os neurônios malham
para levantar dúvidas
e queimar a gordura das verdades.

Se não for assim,
é mera estética
o rigor da forma
na esteira das vaidades.
TRAVESSIA

Tivéssemos a sabedoria evolutiva das rêmoras
e seríamos parceiros insensíveis
de tubarões milenares.

Mas somos escorpiões.

E por isso
afundamo-nos com os sapos
em rios de ingênua generosidade.

Bar 13, Limeira, 18.12.06

segunda-feira, novembro 02, 2009

ORIGAMI

Não, Deus não é brasileiro.

Deus é um japonês baixinho,

calado e carrancudo,

nos dobrando inteiros

pra fazer seu mundo.

Quarto do Poeta, Limeira, 13.09.09, 03h05

MULHERES

Brechtiano que sou
durante o dia
mantenho um distanciamento crítico

À noite
critico a distância

MULHERES II

Ora, direis, ouvir mulheres?

Pois posso dizer que as ouço

principalmente

quando não falo

e entre suas pernas

sou todo ouvidos

POEMA PRA QUEM QUER UM RUMO

Eu tenho um rumo aqui

como diria Luiz Tatit

Quer saber como é que eu penso?

Quer saber porque eu estou cansado?

Cada vez que eu começo a pensar

Me vem tudo de vez

E eu não penso mais nada

Sabe aquelas noites

sozinho em casa

sem ver TV sem ler sem nada?

Ou você se sente

o mais solitário da madrugada

ou percebe que não estar lá fora

é ter um rumo aqui dentro

Pois quando você se encher de si de você mesmo

Basta se deitar e esperar

que a noite siga seu rumo

Ao invés de sair e deixar

que encham o seu saco

de tanta tanta gente sem prumo

Luiz Pienta, Quarto do Poeta, 23.08.09, 04h51

POEMA A SETE CHAVES

portas abertas...

portas fechadas.

sou um de fora pra dentro.

outro de dentro pra fora...

lá fora me fecho.

aqui dentro me abro...

lá fora me perco...

aqui dentro me acho.

lá fora me confundo.

aqui dentro me reconheço...

a esperar pelo dia em que estarei tão cheio de dentro

que poderei me trancar lá fora.

com a chave de ouro de fechar bocas por fora.

e abrir cabeças por dentro...

PANDORA

Por trás de um uni(co) verso

de um bom poeta

sempre existe

uma intenção secreta

Mas ao

contrário

de uma esfinge

se você não decifrá-la

ela não te devora

só vai embora

O COMEÇO DO FIM

(ou a origem da depressão, ou um papo de bar no mar de ressaca depois da sopa)

_ Tem dias em que você não quer ser mais do que uma ameba!

_ Ei! Mas não foi assim que a raça humana começou?

_Ah, tá! Vamos rachar uma célula?

-Humm, acho que prefiro tomar um aminoácido, véio...

Esse negócio de reprodução assexuada não é comigo, não...

ENTRE MIM E LEMINSKI

Existem muitas diferenças

e algumas coincidências

(Paulo por Paulo, por exemplo,

estou mais pra Mendes Campos)

mas com o tempo percebi

que do quanto me diziam

havia um tanto

Tanto que escrevo

em poucas linhas

o que me demora muito

nas entrelinhas

Tanto que sou polaco

redator publicitário

letrista fraco

mas não gosto de rimas fraquinhas

Como vírgulas e

pontos de exclamação

tanto quanto bebo aos cântaros

o que Jesus da água produziu

Gosto pouco de Drummond

e muito do som que faz a gralha

quando derruba uma pinha

e do pinhão blindado pela casca

Traço uma trilha

graciosa estrada barreada

que me leva das araucárias

ao mel do mar das praias

Coincidências, várias

diferenças?

Por exemplo...

Um quimono não me haicai

muito bem

e ainda não me bashô

nada zen

Luiz Pienta, Quarto do Poeta, Limeira, 23.08.09, 04h26

sexta-feira, março 31, 2006

PARA SER PESSOA

(ao amigo Luiz Fernando)

sejas inconseqüente,
não tenhas medidas.
nada desprezes ou aumentes,
nada midas.

assim, tudo o que tocares
terá a validade de um dia,
este grande e invisível
tesouro de nossas vidas.

PAINKILLER

quando me eremito,
mais a evito
do que me permito.

não me permito dar-lhe
uma flor sem fruto,
uma dor sem cura,
uma noite sem amanhecer.

e assim evito
a flor, a dor
e a noite que você
poderia ter, sem objetivo.

quando me eremito,
mais a preservo
do que me privo.

VEIA POÉTICA

delimitar um espaço,
estabelecer fronteiras.
ser dono de si
e de mais ninguém.

ser livre
como o sangue:

se for parado,
é morte certa.
se for aberta a porta,
também.

ser como o sangue,
que só é vida
quando corre solto
pelo espaço limitado
de quem o contém.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Nota chata porém necessária...

Todas as obras estão protegidas por registro em cartório e ISBN.

domingo, dezembro 04, 2005

AÑOS DE SOLEDAD (sobre um som de Piazzolla e Mulligan)

estar só, mas ter amigos,
ainda que distantes,
é estar debaixo de uma tempestade
no meio da mata fechada e enxergar,
à luz de um relâmpago,
placas com nomes de ruas.


é estar voltando pra suposta casa
no fim da madrugada de uma cidade estranha
e enxergar bromélias, avencas e samambaias
cobrindo os prédios.


é sorrir sozinho
ao tomar um cálice de vinho,
por saber que chorar sozinho,
jamais,
quando se tem amigos,
ainda que distantes.


011205

biografia

para um poeta,
viver é câncer.
morrer, metástase.

QUÂNTICO AMOR

jamais imaginei
que um dia a física me explicaria
o que sempre senti e nao sabia.


que apesar de nunca ter estado,
estou com você em algum lugar do universo,
e que este próximo verso,
que aqui dirá longe,
em algum lugar dirá perto.

PROPORÇÃO & PERSPECTIVA

quando crianças,
desenhamos coisas
com valores iguais:


pessoas do tamanho de casas,
carros do tamanho de animais.


quando crescemos,
aprendemos a desenhar
coisas em desproporção:


carros em que não cabemos,
casas em que cabemos demais
e pessoas
de tamanhos desiguais.

(IN)VENTÁRIO

minhas flautas,
deixo ao primeiro vento
que passar...


minhas faltas,
deixo ao perdão
de quem passou
e eu não soube tocar.

VERTIGO

minhas palavras
estão sempre pairando
em um instante sem volta.


como a mão que do penhasco
se solta,
e a imagem congelada
de um corpo que cai,
entre a escarpa e o mar.

GUIA PRÁTICO PARA DEIXAR DE SER POETA

chame a água de agá-dois-ó

ache que você se banha sempre
sempre no mesmo mesmo rio


não pense que cause mágoa
por estar sempre sempre só


e banhe-se sempre sempre
no mesmo mesmo rio


banhe-se
magoe
afunde-se
afogue-se


em h2o

converta-se em pó
esqueça a água
desidrate-se


(para Paulo Mendes Campos)

ANTES QUE EU ME ESQUEÇA

não esqueça
a porta aberta, a luz acesa
não esqueça
o leite no fogo, a vela sobre a mesa
não esqueça
amarre um barbante, anote na agenda
não esqueça
nada é importante
até que vire uma lenda
não esqueça
anote na agenda, amarre um barbante
não esqueça
que essa história de memória de elefante
só vale na hora de se esquecer
por isso
não se esqueça

CAMERA OBSCURA

quando criança
tinha medo do escuro
porque tudo cabia ali
naquele quarto de três por três


agora tenho medo de uma página em branco
porque tudo cabe aqui
neste quarto sem paredes
e muitos porquês