quarta-feira, abril 27, 2005

ECO

integrado,
fui só coletivo:

manada,
orquestra,
esquadrilha,
cardume.

indivíduo que não se assume.

o último impala,
comida de guepardo.

um violino stacatto,
à sombra do spalla.

caça seguindo o líder,
sardinha à espera da lata.

apocalíptico,
simplesmente sou:

substantivo.

bicho,
instrumento,
avião.

peixe que habita
as profundas fossas abissais,
suporta a pressão,
e por isso,

conhece como ninguém
os mistérios do mar
e de sua própria
solidão.

terça-feira, abril 12, 2005

SBP, DISCOVERY CHANNEL e O ÚLTIMO CORTE

Antes de uma amostra grátis do meu livro PASTEL DE CARNE EM ÓLEO DIESEL, alguns poemas da minha fase atual, como SBP:

Como pessoa
Já fui nada

Hoje quero ser
Um anjo
Pras pessoas que me são caras

E um demônio
Pras baratas

ou

DISCOVERY CHANNEL

Talvez um dia eu me ligue
E me descubra

Celacanto em um mar
De ásperos corais e anêmonas gigantes

Olhos de lince em uma savana
De cães carniceiros e leões preguiçosos

Peixe-arqueiro em um rio
De presas fáceis

E não gente que insiste em ser salmão
Nadando contra a corrente

Quando o que importa não é reproduzir-se
Mas ser-se


ou

O ÚLTIMO CORTE

Como de praxe
Um costume de madeira
Veste enfim uma vida inteira
No centro da sala

Neste velório
Se ache
Antes que o faça a morte
Repetitiva estilista da moda derradeira

VENTO PERDIDO

Nada há mais triste do que um
vento perdido.

Sua mãe era uma frente fria da Argentina,
que depois de cruzar com um vendaval bastardo,
parente do El Niño,
se dissipou no Atlântico à procura de um ciclone
ou foi pra Holanda em busca de um moinho.

Agora o vento perdido não sabe aonde soprar.

Ele só queria ser útil, mais do que agradável.
Virar energia no Nordeste ou qualquer coisa que preste.

Mas não há vagas nos céus do Brasil.

E ao vento perdido resta ser rasteiro.
Apagar velas nos cemitérios
ou levantar folhas secas
neste outono derradeiro.

ALÉM-MARTE

apesar de não fazermos parte
desta terramarte
ainda vênus à mente
os pensamentos nobres
ainda lançamos a semente
destas rimas pobres
e só iremos embora
quando a boca se câncer ou
quando o miocárdio enfim se
infarte
porque a vida limita a
arte
mas a arte extrapola a
morte
bate-boca dissimulado

quando falo grosso
falo
querendo
cair
na
sua
lábia

quando falo duro
falo
querendo
entrar
na
sua



bush & sons demolition co.

glória ao B-2 nas alturas
e pás na terra
aos homens por ele armados



defectivo

ao poeta
não cabe
conjugar
o verbo caber
em primeira pessoa
entre quatro paredes
o que chamam de lar



charada

sou
mas raramente estou
quando estou
não soul


pára-choques

não sou
tudo o que amo
mas amo
tudo o que sou

e a fração de mim
é o que me faz
completo